Câmbio, foco na relação euro e real

O euro é a moeda oficial de 19 países da União Europeia (UE), que formam a chamada zona do euro. O real é a moeda oficial do Brasil, que é a maior economia da América do Sul. A taxa de câmbio entre o euro e o real é o preço de um euro em reais, ou seja, quantos reais são necessários para comprar um euro. Essa taxa de câmbio é determinada pelo mercado, de acordo com a oferta e a demanda por cada moeda, que são influenciadas por diversos fatores, como o crescimento econômico, a inflação, a política monetária, a balança comercial, as expectativas dos agentes econômicos, as crises financeiras, as tensões geopolíticas, entre outros.

Nos últimos anos, a taxa de câmbio entre o euro e o real passou por grandes flutuações, refletindo as mudanças no cenário econômico e político global e regional. Segundo dados do Exchange Rates¹, a taxa de câmbio média anual do euro para o real foi de 4,3089 em 2018, 4,4139 em 2019, 5,8938 em 2020 e 6,2869 em 2021 (até novembro). Esses valores mostram que o euro se valorizou em relação ao real em 2020 e 2021, após ter se desvalorizado em 2018 e 2019. Os principais fatores que explicam essa variação cambial são:

– A pandemia da Covid-19: a pandemia da Covid-19 afetou profundamente a economia mundial, provocando uma recessão global, uma queda na atividade produtiva, um aumento do desemprego, uma redução do comércio internacional, uma elevação da dívida pública, entre outros efeitos negativos. Para enfrentar a crise, os países adotaram medidas de estímulo fiscal e monetário, como o aumento dos gastos públicos, a redução dos impostos, a diminuição das taxas de juros, a expansão da oferta de moeda, a compra de ativos financeiros, entre outras. Essas medidas tiveram impactos diferentes sobre as moedas, dependendo da magnitude, da duração e da credibilidade das políticas adotadas. No caso do euro, a UE lançou um plano de recuperação de 750 bilhões de euros, financiado pela emissão de dívida comum, o que fortaleceu a confiança na moeda e na integração europeia. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de juros básica em zero e ampliou o programa de compra de ativos para 1,85 trilhão de euros, o que aumentou a liquidez e o crédito na zona do euro. No caso do real, o Brasil enfrentou dificuldades para conter a propagação do vírus, o que agravou a situação sanitária, social e econômica do país. O governo brasileiro também adotou medidas de estímulo fiscal, como o auxílio emergencial, mas sem uma contrapartida de ajuste fiscal, o que elevou o déficit e a dívida pública do país, gerando preocupações sobre a sustentabilidade fiscal e a inflação. O Banco Central do Brasil (BCB) reduziu a taxa de juros básica (Selic) de 4,5% em 2019 para 2% em 2020, o menor nível da história, mas teve que iniciar um ciclo de alta em 2021, elevando a Selic para 7,75% em novembro, para conter as pressões inflacionárias. Esses fatores favoreceram o euro em relação ao real, pois aumentaram a diferença entre as taxas de juros e a confiança nas políticas econômicas entre as duas regiões.

– A política monetária: a política monetária é o conjunto de ações dos bancos centrais para controlar a oferta de moeda, a taxa de juros e a inflação. A política monetária afeta a taxa de câmbio, pois altera a rentabilidade e a atratividade dos ativos financeiros denominados em cada moeda. Em geral, uma política monetária expansionista, que reduz a taxa de juros e aumenta a oferta de moeda, tende a desvalorizar a moeda, pois diminui o seu custo de oportunidade e incentiva a sua saída para outros países. Já uma política monetária contracionista, que aumenta a taxa de juros e reduz a oferta de moeda, tende a valorizar a moeda, pois aumenta o seu custo de oportunidade e atrai a sua entrada de outros países. Nos últimos anos, a política monetária entre o euro e o real foi divergente, o que contribuiu para a variação cambial. Enquanto o BCE manteve uma postura acomodatícia, mantendo a taxa de juros básica em zero e ampliando o programa de compra de ativos, o BCB alternou entre uma postura expansionista, reduzindo a taxa de juros básica para 2% em 2020, e uma postura contracionista, elevando a taxa de juros básica para 7,75% em 2021. Essa divergência favoreceu o euro em relação ao real, pois aumentou o diferencial de juros entre as duas moedas e tornou o euro mais atraente para os investidores.

– A balança comercial: a balança comercial é o saldo entre as exportações e as importações de bens e serviços de um país. A balança comercial afeta a taxa de câmbio, pois altera a demanda e a oferta por cada moeda no mercado internacional. Em geral, um superávit comercial, que significa que as exportações são maiores do que as importações, tende a valorizar a moeda, pois aumenta a sua demanda por parte dos compradores estrangeiros. Já um déficit comercial, que significa que as importações são maiores do que as exportações, tende a desvalorizar a moeda, pois aumenta a sua oferta por parte dos vendedores nacionais. Nos últimos anos, a balança comercial entre o euro e o real foi desfavorável ao real, o que contribuiu para a sua desvalorização em relação ao euro. Segundo dados do Eurostat², a zona do euro teve um superávit comercial de 227,7 bilhões de euros em 2018, 225,7 bilhões em 2019, 217,3 bilhões em 2020 e 191,5 bilhões em 2021 (até setembro). Já o Brasil teve um superávit comercial de 58,3 bilhões de dólares em 2018, 48,0 bilhões em 2019, 50,9 bilhões em 2020 e 67,4 bilhões em 2021 (até outubro). Esses dados mostram que a zona do euro exportou mais do que importou, enquanto o Brasil importou mais do que exportou, quando se considera o comércio com o resto do mundo. Além disso, o Brasil teve um déficit comercial com a zona do euro de 4,6 bilhões de euros em 2018, 5,4 bilhões em 2019, 3,9 bilhões em 2020 e 4,1 bilhões em 2021 (até setembro). Esses dados mostram que o Brasil importou mais do que exportou da zona do euro, o que aumentou a oferta de reais e a demanda por euros no mercado internacional, reduzindo o valor do real em relação ao euro.

Portanto, a variação cambial entre o euro e o real nos últimos anos foi marcada por altos e baixos, refletindo as mudanças no cenário econômico e político global e regional. O euro se valorizou em relação ao real em 2020 e 2021, após ter se desvalorizado em 2018 e 2019. Os principais fatores que explicam essa variação cambial são a pandemia da Covid-19, a política monetária e a balança comercial.

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